Histórias de mães empreendedoras: como a maternidade as fez ver a vida de forma diferente

Depois dos filhos, as prioridades mudam, mas o horário, as demandas, as muitas reuniões e compromissos de trabalho, não. Muitas mães sentem então a necessidade e o desejo de mudar de vida ao fim da licença maternidade e acabam por aproveitar o momento para fazer isso.

Histórias de mães empreendedoras: como a maternidade as fez ver a vida de forma diferente

Conversamos com algumas delas para entender melhor o movimento de repensar a profissão e o emprego para empreender. Conheça e se inspire nessas lindas histórias.

  

A Renata e a Telma passaram a criar roupas com gostinho de infância.

Renata e Telma, criadoras do site www.roupasparabrincar.com

  

Somos amigas de infância e fomos bastante tocadas pela maternidade. Sentíamos que uma vida nova tinha, de fato, surgido também dentro de nós. Nossos trabalhos não faziam mais sentido porque toda nossa energia, atenção e amor estavam colocados nessa fase tão rica e cheia de descobertas que estávamos vivendo. Mergulhamos por inteiro nessa novidade e, com isso, simplesmente não era mais possível estar presente nesse momento e ainda viver como vivíamos antes, com a mesma rotina e o mesmo trabalho. Costumamos dizer que a maternidade é tão transformadora que conseguiu transformar uma jornalista e uma fisioterapeuta em empresárias de confecção. 

Nossa ideia de empreender surgiu em 2015, durante as férias escolares, depois de uma visita nossa a uma loja de departamento. Estávamos à procura de biquínis infantis e encontramos alguns modelos com bojo! O problema já era um assunto na nossa pauta – somos amigas de infância – comadres – e, após o nascimento das crianças, sempre foi um choque para nós encontrar mais roupas para festinhas e “adultinhas” (com rendas, babados e decotes e “piniquentas”) do que roupas para brincar que, para nós, devem ser coloridas, resistentes, capazes de dar mobilidade à criança. Foi assim que surgiu nossa marca: “Roupa para Brincar”. Da ideia nas férias de janeiro até produzirmos a primeira legging não demorou dois meses. Fomos de pouco em pouco e, hoje, temos também uma linha para adultos, que tem crescido bastante nos últimos tempos. 

Empreender é transformador. É uma delícia perceber que aquela sua ideia faz sentido para muitas outras pessoas – mas também é exaustivo. Trabalhamos muito –  mesmo. Lemos, estudamos, pedimos cada vez mais ajuda/consultoria a outros profissionais. Continuamos remando, mas acreditamos que na direção certa. 

 

Fabiana encontrou flexibilidade de agenda como consultora.

Fabiana Correa

  

O nascimento do meu filho não mudou imediatamente a minha relação com o trabalho. Eu me sentia estranhamente comprometida com as obrigações profissionais, era meio que um hábito de longa data porque sempre trabalhei muitas horas como jornalista. O que mudou é que eu sofria muito para sair de casa e já chegava lá, ao trabalho, com um sentimento de que não estava no lugar certo. Pelo menos não estava do jeito certo –  ou com a quantidade de horas certa. Havia semanas em que não conseguia ver meu filho acordado. Daí foram sete anos até que eu conseguisse investir cada vez mais no meu plano B e começar a construir algo em que eu pudesse trabalhar de outra maneira. Queria fazer algo que gostasse e que me desse flexibilidade para estar com meu filho. Queria ter tempo para ir na reunião da escola sem ter que negociar uma saída no trabalho, queria estar em casa na volta da escola ao menos uma vez por semana. E sempre estar perto na hora de dormir.

Consultoria de imagem e estilo seria perfeito em todos os aspectos. Comecei a fazer cursos, me especializar nisso. Em algumas revistas e jornais que trabalhei já atuava nessa área de estilo, já tinha dado palestras em empresas sobre o tema, portanto, não era um assunto novo para mim. Mesmo assim, para sair do trabalho, precisava estar bastante preparada para o desafio. Então fui, na medida do possível, ganhando experiência e coragem para empreender. Claro que não foi perfeito na prática. Houve vários momentos em que tive que recorrer à minha profissão anterior para nos sustentar, o que é uma vantagem: posso fazer projetos em home office – ou seja, remotamente. 

A verdade é que o trabalho realmente ganhou outro espaço na minha vida. Tem momentos em que trabalho muito, tanto quanto antes, mas de outro jeito. Com outras prioridades. Se meu filho está doente, não vou ficar no trabalho sofrendo porque deveria estar ao lado dele. Se tenho uma cliente nesse dia, posso me dar ao luxo de remarcar. Ou, se houver uma palestra e eu tiver que ir, fico duas horas fora e volto. E sei que estive ali no dia anterior. Enfim, as verdadeiras prioridades foram redefinidas. 

 

Estefi, as experiências que viraram blog.

Estefi Machado

  

Sou designer, sempre trabalhei em estúdios e agências. Desde que engravidei, resolvi ser freelancer para estar mais tranquila para o que viria. Estive colada ao Teo desde cedo. Fiquei em casa  sem babá e amamentei durante nove meses, mas tudo isso aconteceu ao mesmo tempo que desenvolvia meus projetos. Até que me deu um “siricutico”, comecei a sentir falta de ver “gente grande” e passar crachá na catraca. Um horror sentir falta disso, mas quando o Teo fez um ano arrumei um emprego num estúdio pequeno para voltar para o mundo. Deixava ele num berçário das sete às 19h. Além de me matar por dentro, vira e mexe  ele tinha  otite, febre, dor de garganta – e passei a ver muita cara feia no trabalho pelos meus atrasos, faltas e saídas furtivas. Quando eu me peguei ensaiando e tendo medo de contar para a minha chefe que ficaria três dias internada com o Teo no hospital, vi que estava à beira  do maior equívoco da minha vida. Saí do meu emprego e trouxe o meu trabalho para o dia a dia dele – e ele foi entrando no meu mundo de papéis, tintas, botões, tecidos e fitas.

Tudo começou em forma de blog, só para mostrar o que fazíamos para o mundo. Cada coisa que fiz e deu certo no mercado, foi feita “sem querer”: o verdadeiro sem fins lucrativos. E incrivelmente nunca ganhei tão bem quanto hoje. Posso dizer de boca cheia que a maternidade é meu negócio. Mesmo. Descobri que não existe maior mola propulsora que um filho. Com o Teo nasceram também uma fotógrafa, uma cenógrafa e uma vitrine virtual onde mostro tudo isso com meu fiel escudeiro. E depois de tudo, eu nasci de novo. Na minha “lojinha” tem fotografia, cenografia, design, ilustração e muito conteúdo para crianças. 

Depois de conhecer algumas histórias que encorajam bastante, é importante lembrar que empreender é, de fato, uma opção profissional – mas nem todos têm o perfil empreendedor que é necessário para lidar com os desafios diários de uma empresa. Tem uma boa ideia na mão? Então, antes de dar esse grande passo, a sugestão é fazer um teste de perfil empreendedor e também um plano de negócios, mesmo que bem simplificado, para entender se a sua ideia tem potencial a médio e longo prazo. Afinal, não queremos que só o seu filho cresça forte e saudável, mas a sua empresa também.